quinta-feira, 23 de abril de 2009

ALBUM



Trabalho numa perspectiva de abandono,experiencia-limite, que acaba mixada num modelo de video-acontecimental, são as coisas da cidade que pulsam em sutilezas brutais. O envolvimento com esses poros negativos que compõem a urbe de teresina acabam por influenciar na minha prática, um desencantamento poético do mundo, que mostra em toda minha videoografia que "é preciso e urgentíssimo que alguem escreva para nada salvar", como diz Jomard.

Vídeo que enfatiza histeria e mal estar, num distanciamento crítico da realidade, na apropriação de referências imagetico-musicais sem a devida preocupação de melhorar ou mudar a vida do olho de quem vê, apenas corroer os ultimos ossos que sobram. Ver o espectador se debatendo com a obra e encontrando nela a espinha fundamental para sua transformação ou aprofundamento da indiferença com o outro na nossa dita "contemporaneidade".

Esse vídeo fala um pouco disso, da indiferença, da margem e da desolação em sua máxima crueldade, os gatos aparecem desfocados para enfatizar seu vazio perante o paredão que constitue-se nitidamente ao fundo da tela, uma tremedeira esmagadora da câmera, invadindo sem respeitar aquele momento dilacerante da privacidade, um desreipeito a um membro morto de uma famila morta. O que é um gato morto? Até onde vamos apreciar a nossa coisificação?

Assim, aquele album desmanchando pela voracidade da máquina que esmaga é cortado pelos berros do cão (que se maravilha ao ver a paisagem ficar enegrecida pelo seus olhos cheios de sangue e alegria), até uma pá retirar do asfalto aquele trapo que atrapalha o trânsito, assim como nós usamos a nossa pá, para retirar nossas impurezas mais decadentes da passagem que só interessa a nós.


Porquê "concepção"? Para mim o vídeo é isso: uma concepção, marcada pela sua flexibilidade do errar ao fazer o ideal, de digerir e friccionar, de compor as extremidades da imagem sem se preocupar (mas com a devida responsabilidade) com o mercado, que só tende a homogeneizar a criação, enfim.
A concepção me passa prazer, momento de formular o conceito para a imagem em movimento, o entrar e o sair da criação e acima de tudo: focar a idéia, não a narrativa filmica tradicional.
Concepção é flexivel, direção é autoritária.

Bem, acho que "Album" foi uma experiência forte pra mim, os gatos expostos são símbolos de nossa desumanidade, não pelo viés vitimista, mas pela certeza cada vez mais clara que os homens e afastam uns dos outros...

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